8 de set. de 2009

Desmitificando - Jitsu X Jutsu

***Antes de mais nada gostaria de esclarecer que este post não tem como objetivo autoafirmar-se dono da verdade; trata-se da conclusão de uma pequena pesquisa. Quaisquer correções, ou adições são bem-vidas.***


Qual praticante de artes marciais japonesas, quaisquer que sejam, afinal algum dia não se pegou perguntando "qual é a diferença entre JITSU e JUTSU?


99% das respostas que encontramos é: "nenhuma, ambos os termos têm o mesmo significado".


Mas não é bem assim que ocorre. Se formos levar em conta a língua nipônica, jitsu e jutsu são completamente diferentes, tanto na forma que se escreve quanto nos conceitos que os termos abrangem. Pra deixar mais claro, vamos ter que dar uma olhada nos kanjis que mais comumente cercam nomes de artes marciais japonesas:

Jitsu (実) - é um kanji usado como “honestidade” ou “verdade”, tal como no termo 実は“jitsu-wa” (real, na verdade).

Jutsu (術) - é um kanji usado para “técnica” ou “método”. Os japoneses empregavam essa terminologia para definir artes marciais potencialmente letais e/ou fatais sendo as mesmas utilizadas ativamente para esse fim em tempos de guerra, tais como o kenjutsu, ninjutsu, taijutsu, jujutsu e etc.

Do (道) - significa “caminho” em sua conotação filosófica. O termo passou a ser amplamente utilizado para substituir o jutsu das artes marciais a partir da era Meiji no Japão.


Explicando melhor:

Jujutsu é um nome coletivo para artes marciais japonesas, incluindo técnicas de combate armado e desarmado. Até a II Guerra Mundial o JuJutsu fazia parte do currículo da polícia japonesa. Muitos dos atuais praticantes de artes marciais atribuem o nome jujutsu à técnica marcial ensinada pelo monge indiano Zen-budista Bodhidharma, porém “atribuir ao Jujutsu a origem chinesa (sobre a ‘origem indiana’ nem se cogita) é o mesmo que atribuir ao inventor da roda o desenvolvimento dos carros modernos. O Jujutsu em si é produto japonês.” (Donn F. Draeger. Classical Budo. p. 113).

Ao fim da era Tokugawa existiam centenas de estilos de Jujutsu, cada um enfatizava técnicas de acordo com o que era mais conveniente. O jujutsu foi o prelúdio para a evolução de diversas artes marciais e o grande responsável pelo desenvolvimento do taijutsu (体術), as “artes corporais” tais como o judô, o sumo, o aikido e etc.

Quando a família Gracie aprendeu judô com Esai Maeda (Conde Koma) em Belém (no Pará) na primeira metade do século XX, o primogênito Carlos Gracie ensinou as técnicas de judô Hélio Gracie, o menor e mais frágil entre os irmãos e este se especializou nas técnicas de solo e alavanca. É dito que Carlos Gracie lançou diversos desafios a lutadores da época enfrentando e vencendo oponentes maiores e mais pesados. Tão logo a família ganhou fama acabou atraindo muitos alunos para o Rio de Janeiro, local onde os Gracie abriram sua primeira academia. Hoje o "jujutsu brasileiro" é uma das artes marciais mais funcionais e respeitadas do mundo.

O termo Do veio substituir o Jutsu na denominação de algumas das artes marciais japonesas, uma vez que jutsu tenha conotação bélica do que o Do e já não era mais necessário o treinamento de auto-defesa visando a guerra ou a morte. Com a arte dos Gracie aconteceu o contrário. O nome jujutsu foi adotado pela família para batizar seu estilo de luta e diferencia-lo do judô ensinado por Koma.


Romaji

O romaji é um método relativamente recente de transcrição fonética da língua japonesa para o alfabeto romano e foi influenciado especialmente pelo português e inglês. Por exemplo, o romaji para 中段突き(soco no nível médio/peito/plexo solar) é chudan tsuki. Ao transcrever o termo sem o romaji os países de língua portuguesa poderiam grafar como tiudâm tisuqui, enquanto nativos de outras línguas grafariam de outra forma. A padronização romaji visa facilitar o aprendizado da língua nipônica. Tão logo, o termo Jitsu para a arte praticada pelos Gracie partiu de um erro de pronúncia dos brasileiros.

A sílaba ju em japonês é pronunciada “djiu”. A pronúncia da letra D é amarrada à da letra J e a letra I fica quase incógnita. Logo jujutsu pronuncia-se djiu djiutisu. Repetições rápidas das palavras e de erros de fonética provavelmente levaram os alunos brasileiros a tonificarem alguns sons e omitirem outros. Por fim JuJutsu tornou-se JiuJitsu. Autores que fazem referência ao modo nipônico de transcrever a arte dos Gracie utilizam os mesmos caracteres e significados utilizados para JuJutsu – arte/técnica suave, ou seja, em grafia ambas as artes são exatamente iguais. Porém, se Jitsu fosse grafado utilizando-se o kanji correto referente ao termo, JiuJitsu significaria ao pé da letra “verdade suave”.

Por fim o termo Jitsu acabou exportado erroneamente do Jujutsu dos Gracie para transcrever outras artes japonesas. Escolas tradicionais que prezam suas raízes nipônicas utilizam apenas o termo jutsu, quando é o caso. Escolas ou academias que grafam jitsu (por exemplo, ninjitsu) geralmente são de origem duvidosa.


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Bibliografia

http://www.bugei.com.br/bugei/disciplinas/jujutsu.asp

http://japanese.about.com/od/wordoftheday/p/word229.htm

http://wsu.edu/~dee/KABUKI/JITSUWA.HTM

http://www.adrr.com/bengoshi/jitsu.htm

http://www.cbjj.com.br/hjj.htm

http://jiujitsuartesuave.blogspot.com/2008/01/o-grande-mestre-esai-maeda-koma.html

http://pt.wikipedia.org/wiki/Jiu-jitsu

https://www.orientaloutpost.com/shufa.php?q=lexi

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