22 de abr. de 2011

Insatisfação no karate esportivo

Porto Alegre foi palco recentemente da Copa Pódio de Karate, onde os melhores atletas nacionais se enfrentaram em "absoluto", ou seja, todos contra todos, sem divisão de peso. À primeira vista o evento tinha tudo pra impressionar, já que reunia atletas de alta performace, digamos, mas a decepção por parte de alguns karatekas esportivos foi marcante.

Os comentários esbanjados em redes sociais têm causado estranhamento de alguns veteranos: as lutas revelaram um "híbrido de karate, taekwondo e judo", segundo a visão dos mesmos, e os mais pessimistas entre eles vislumbram um futuro ruim para o esporte, já que este teria sofrido uma descaracterização. Seria uma tentativa torpe de ser/ter várias técnicas de artes diferentes e ao mesmo tempo não ser/ter nenhuma (realmente característica do estilo). Resta saber se essa foi uma consequência indireta da mudança de arbitragem promovida recentemente pela WKF e/ou se a mudança de regras datada em 2009 criou vazão para essa ligeira mudança na maneira de lutar dos competidores.

Um segundo objeto de reclamação geral foi o fato dos juízes e outras autoridades da organização em questão (CBK) estarem usando sapatos sobre o tatame, ainda que esta e a própria WKF seja contrária a esse tipo de atitude. A afronta a um tradicionalismo que até mesmo os karatekas esportivos respeitam à risca tem contribuído para despertar uma onda de questionamentos.

Vale mencionar que o boom causado pelo MMA tem encorajado os mais jovens a buscarem artes marciais para aprenderem luta, defesa pessoal ou para ficarem mais fortes, público esse que, anteriormente, tenderia a se interessar pelo karate esportivo por causa das Olimpíadas e cuja "grade" é bem menos exigente. Outro agravante seria a baixa procura dos karatekas dessa modalidade para grandes competições, de modo que menos de 5% dos karatekas do mundo todo (segundo a ITKF) visam o treino para competir profissionalmente, que é justamente o foco das federações do meio. Ou seja, em tese, descontando outros eventos e competições menores realizados pelas sub-organizações, a modalidade depende de um percentual baixíssimo de competidores para continuar existindo.

Obviamente é impossível dizer que o karate esportivo está à beira de um colapso ou da extinção, não apenas porque essa alteração no formato tenha conquistado a aceitação de uma boa parcela do público, mas também porque tal modalidade deu um passo importante na arbitragem visando diminuir um problema seríssimo que sempre existiu: a facilidade para burlar regras e "comprar" resultados, muito embora um dos âmagos do problema (lutas que permitem pouco ou nenhum contato) não tenha sofrido qualquer alteração. Os mais espertinhos vão continuar fingindo lesões afim de penalizarem seus adversários, algo extremamente comum e alvo de grandes reclamações entre aqueles que competem, desde sempre. Mas é possível, ainda que em baixa escala, que a modalidade sofra um esvaziamento gradativo por causa da nova onda dos jovens que "querem ficar fortes". Numa previsão otimista talvez essa seja a chance que muitos karatekas tradicionalistas têm pra poder voltar a puxar treinos mais pesados, não porque karate tenha qualquer semelhança com MMA, mas sim para satisfazer a esse novo público mais exigente.

Enquanto isso os mais velhos praticantes da modalidade esportiva, geralmente resistentes à mudanças, estão fadados a aceitarem  tais alterações se quiserem continuar sob a tutela das grandes entidades federativas nacionais e internacionais.

Leia mais sobre as alterações no sistema de arbitragem.
Conheça o regulamento vigente para as lutas desde 2009 
Assista a uma luta do evento

2 comentários:

PuniSher disse...

Poxa, esse texto descreve exatamente o que está acontecendo com o karatê. Eu estou no karatê há pouco tempo, entrei graças ao mma também. Eu praticava mma e sempre admirei o lyoto machida, então quando me lesionei e tive que sair do mma, foquei que meu objetivo seria treinar karatê e voltar pro mma usando esse estilo tão lindo e eficaz, mas às vezes eu me pego querendo desistir do karatê e entrar para o muay thai, porque está tendo pouquíssimo kumite e isso está me frustrando muito. Acho que se continuar nesse ritmo eu nunca realizarei meu sonho.

Codinome: Beija-Flor disse...

Vergonhosa a conduta da FBK - Federação Brasileira de Karatê. Não é de hoje que a Federação instalada na cidade de São Paulo "puxa a sardinha" para os seus atletas mas neste último campeonato realizado em Santa Cruz do Sul, no final de semana passado gerou uma revolta em todas as delegações. Falta de respeito com os demais que tiram dinheiro do seu próprio bolso, viajam por horas (alguns por 56 horas - caso do Sergipe) para chegar lá e ser ROUBADO na cara dura. Soubemos da boca de um árbitro que eles são forçados a roubar para São Paulo. Se vermos o resultado geral fica nítido...São Paulo 30 medalhas de ouro, o segundo colocado 8 de ouro e Santa Catarina, terceira colocada apenas 7 medalhas de ouro. Pela discrepância dá para notar o "grau" da roubalheira. Acho que fica até feio para os paulistas. Se querem ficar com todas as medalhas, não faça campeonato brasileiro. Compre as medalhas ou façam apenas regionais. Acabamos torcendo que no nosso tatame não tenha ninguém de São Paulo porque se tiver já sabemos que estamos derrotados antes mesmo de entrar. Neste ano foi tão absurdo que os árbitros não davam ponto para os oponentes e ainda por cima puniam quando o adversário estava na frente. Até o tempo de kumite foi "roubado" em alguns cotos. Crianças abaixo de faixa roxa fazendo katas mega avançados. Muitos atletas se machucaram que tiveram que sair de maca pois como o árbitro não dava ponto nenhum, os atletas dos outros estados começaram a descer o braço mesmo para que os árbitros vissem. E sabe o que é pior? Não tem para quem reclamar.